Hoje aproveitei mais uma das vantagens de trabalhar no centro de uma cidade histórica e cultural. Na hora do almoço fui conferir a trajetória de Anita Malfatti. Sua pintura foi apontada com estopim do modernismo brasileiro por ícones como Tarsila do Amaral, Mario de Andrade e Oswald de Andrade. O Centro Cultural Banco do Brasil apresenta: Anita Malfatti – 120 Anos de nascimento. A exposição composta por 120 obras de 70 coleções particulares e públicas é um passeio por todas as técnicas e materiais usados pela artista ao longo da sua vida.
Um delicioso passeio entre o primeiro quadro (Burrinho correndo – 1909) assinado como Babynha e a última obra que ficou inacabada (Cristo nas ondas – 1950/60). O passeio segue pelo choque da Semana de Arte Moderna de 1922, pela simplicidade da descrição do interior do Brasil e suas festas populares, os retratos da família e dos amigos modernistas e, a que eu considero a sua fase mais bonita, que retrata suas viagens pelo mundo. Nunca fui a Veneza, mas os quadros Canal de Veneza e Veneza, Canal me fizeram sentir como seu eu tivesse conhecido sem sair do lugar. As obras feitas na Ilha Monhegan nos Estados Unidos também servem de passaporte a uma viagem sem deslocamentos.
Monterio Lobato descreveu assim o trabalho de Anita Malfatti:
Paranóia ou mistificação?
“Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui um sem-número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura. Há de ter essa artista ouvido numerosos elogios à sua nova atitude estética. Há de irritar-lhe os ouvidos, como descortês impertinência, esta voz sincera que vem quebrar a harmonia de um coro de lisonjas. Entretanto, se refletir um bocado, verá que a lisonja mata e a sinceridade salva. O verdadeiro amigo de um artista não é aquele que o entontece de louvores e sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz claramente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás.”, Monteiro Lobato.
Ainda no CCBB podemos conferir Zeróis: Ziraldo na tela grande. Uma mostra que tem como fonte as Histórias em Quadrinhos e seus Super-heróis. Mas essa vai ter que ficar para outro dia. O almoço acabou e preciso voltar ao trabalho!

Anita Malfatti – 120 Anos de nascimento fica no CCBB até o dia 26 de setembro, imperdível!
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março,66
Centro do Rio de Janeiro
Aberto de terça a domingo das 9h às 21h
12 de agosto de 2010